Minha vida
No primeiro, “A Bach Recital”, do icônico Andrés Segovia, ouvi pela primeira vez a Chacona da Partita em Ré menor para violino, de Bach. Imediatamente, pensei: “se no violão toca-se isso, nele se toca qualquer coisa…!”
A paixão pelas cordas dedilhadas começava aí.
Os outros dois álbuns foram a coletânea Love Songs, dos Beatles e o inesquecível Concert in Central Park, da dupla nova iorquina Simon & Garfunkel. Destes aprendi a amar a engenhosidade e criatividade insuperáveis do primeiro e, do segundo, o apelo do folk-lirismo urbano que, anos depois, eu associaria de forma indissolúvel à melancolia da música elisabetana.
Quando chegou a hora famigerada (tão cedo, hoje penso) de escolher uma faculdade, optei por latim noturno, na Usp. O estudo da música e do violão já me ocupavam demais, eu pensava, para perder mais tempo com qualquer outra escolha mais ortodoxa. Obviamente, não durou.
Viajei à Holanda onde, por dois anos, coloquei-me em contato direto com o universo da música antiga, dos instrumentos de cordas dedilhadas de outros tempos. Começava uma nova etapa, onde o violão não parecia mais, sozinho, dar conta da minha busca sonora e estética. Vieram os alaúdes, a teorba, as guitarras barroca e renascentista, a guitarra romântica, o alaúde barroco e a viola de arame.
O tempo passou, meu compadre, amigo do coração e maestro Ricardo Kanji voltou também ao Brasil, e pude viajar nosso país e o mundo com ele, tocando e aprendendo sempre. Voltou o Luis Otavio Santos, maestro soberano do violino barroco e estudioso dedicado das forças ocultas que regem nosso universo, com quem pude seguir aprendendo e tocando a seu lado.
Veio a curiosidade pela música popular e suas harmonias, vieram os violões folk, as guitarras elétricas e outros violões. Veio o maestro Beto Ianicelli, que abriu uma janela para novas e lindas paisagens.
Atuo também como arranjador e produtor, tendo já escrito arranjos para diversos cd’s e espetáculos, entre os quais, recentemente, para um projeto de sonho, o Ninárias, em que visitei as cantigas de ninar de todo o mundo.
Sigo tocando, flertando com o hinduísmo e tentando plantar alfaces e beterrabas no meu quintal. Gosto de ler tudo o que encontro, e recentemente me desfiz na beleza sem fim do Grande Sertão: Veredas, livro que muda a vida da gente.
Do Brasil e do mundo conheci bastante. A música me levou para França, Holanda, Espanha, Portugal, Finlândia, China, Equador, Argentina, Bolívia, Paraguai. Brasil de norte a sul, sempre levado pela música e deixando-me levar por ela.
Assim quero viver e morrer. Não sei fazer outra coisa, e se um dia eu renascer (cada qual com suas crenças…) peço só a papai do céu que me deixe voltar de novo como músico, trazendo de volta ao menos um pouquinho do que aprendi por aqui desta vez.
Liberdade e amor, mais não ouso querer.
Namaste!
Além de sua atividade como solista, é considerado o mais ativo instrumentista de cordas dedilhadas antigas em conjuntos ou orquestras no país, com trabalhos realizados junto à OSESP, ao Coro da OSESP, à Banda Sinfônica do Estado de São Paulo e ao Coral Paulistano, entre outros. Suas apresentações já o levaram às salas de concerto da China, França, Espanha, Portugal, Finlândia, Bolívia, Argentina, Paraguai e Equador, além de todo o Brasil.
Dono de uma discografia que inclui mais de uma dezena de títulos, dedica-se também ao ensino, em cursos regulares (junto ao Núcleo de Música Antiga da EMESP) e em oficinas e palestras por todo o Brasil.